Sempre desconfiei que tivesse uma ponta de depressão pelo
simples motivo de não viver, só fazer planos, e esperar as estações e querer
que o tempo voe! E notadamente eu me arrependerei de todos esses pedidos ao
tempo, não o tempo do relógio contado, mas esse tempo nosso, que um dia é horas
e uma saudade é um ano inteiro. Uma madrugada vira o mês que vem, com todos os
dias intermináveis de medos e despertadores.
Fui tantas vezes água
corrente, calma, o rio fluindo junto com a primeira palavra do dia, que me
desacostumei a ir contra a maré. A virar espuma quando bate contra as pedras, a
virar gotícula quando quebra, e cada gotícula teria muito mais força do que eu
tenho inteira. Porque cada gota de mim não é de sal, nem doce, é de querer o
tempo, mas sem tê-lo. Porque quem tem
tempo de apreciar o pôr do sol, tem tempo de sobra, e tempo de sobra me mata,
me mastiga e eu já não penso, enlouqueço. Tempo de conversar assuntos vazios já
nos tiram tempo de conversar com os pássaros que voam de dentro da gente pra
folha, pros caminhos entre as letras.
Desconfio que esse respirar gelado, as mãos apertadas de não
saber o que fazer com tanto tempo, virem em pó de tanto o apertar, em migalhas
cai nos meus pés o único tempo que tive para meus olhos e o odiei. Porque meus
olhos não exprimem coisa alguma quando não estão pulando pelo relevo de uma
letra solta. Quando a encontra e a junta, a espreme e essa vira “saudade”, “choro”,
“chuva”, “medo”.
Desconfiei de não ter sonhos, e quando sonhei fui morta no
primeiro pedido de tempo pra pensar. Porque nunca pensei, e outros desconfiaram
porque era ela que só indagava, agora quer pensar sobre si mesma, que estranho!
Que terrível!
Porque eu sempre desconfiei que estava errada, mas na
realidade do vento, o tempo é o meu martírio quando se arrasta a cada manhã. E
na verdade, eu sempre serei onda leve, que ao invés de quebrar vai até a praia
e revolta-se, trazendo o repuxo muito mais forte quando ia, trazendo o seu
tempo perdido.
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