Há entre os olhos e a alma, entre as cores e esses cheiros
sórdidos e gastos, há luz, e espectros de dor entre a retina e a mente. Entre
os olhos e a alma existe um abismo e um tênue desespero de existir somente um.
Entre as árvores, no fundo do corpo, na parte superior das costas, atrás dos
olhos, naquelas cores inimagináveis, no lilás de uma lágrima que colore os
lábios, no gosto adocicado que tem o cheiro de manhã acinzentado, há sombra.
Nas lágrimas que se transbordam e se afogam na orla dos olhos, se deixam cair
para a alma, e nossas mãos seguram o grito, prendem o sonho mais triste e eu
guardo minha melancolia de contos com finais trágicos. Aquela melopeia de
madrugada, enquanto o olho relata à alma o passado escondido, o passado que não
vivemos, e aquele roubo que já sentimos o cheiro. E se faz delirar, chorar,
sons e imagens febris vem para a cortina escura dos olhos e estes exclamam dor.
Faz-se, também, alegria plena, paz, um olhar escampado. Quando sentimos os
gosto de fruta mordiscada, açucarada, molhada em lágrima agridoce de uma
despedida breve e datada.
Na pele aveludada, cílios molhados e cerrados, a alma se refaz
se recria, e cantarola, trancafiamos os pensamentos daqui e dali, tentamos ver,
abrir os olhos e então, somos forçados a ver sem enxergar, a sorrir com a alma,
permanecer, pertencer ao sonho de uma dor adormecida amarelada. E é refulgente,
dói nossa sensibilidade não sentir, arde no nosso olho não falar, e machuca
demasiadamente não conseguiu sentir, cheirar, enxergar, somente cerrar e deixar
a alma derramar seu desabafo caloroso no quiriri da noite.
Há entre os olhos e a alma uma confidência, uma chave não
descoberta, e um algo mais abstrato, invisível. E minha alma se refaz nos meus
olhos enquanto estes adormecem, materializa-se em um lugar arbóreo, com fruta
colorida e cheiro que se vê no ar, o lilás de uma lágrima que colore meus
lábios.