terça-feira, 8 de outubro de 2013

Rimas para falecer

Não há de ser rima, quando já foi prosa mal contada. Não escrevo pra rimar ou pra choramingar, escrevo porque a tristeza por vezes me faz torturar a folha do papel. Risca, forte, fria, rasga. E não necessita de rima para fazer sofrer nem  pra torturar, muito menos para falecer. E não precisa saber-se morta para estar, nem saber-se de poeta pra poder combinar palavras. Pois não relato pra combinar a prosa com o poema, vou relatando palavras que se combinam, e essas vão se ajustando ao espaço mórbido e pequenino de uma linha.

E eu me ajusto no sofá, em uma almofada, e vou encolhendo até virar pétala, sensível e quase que não visível. Para não ter outros olhos e nem outras bocas falantes e corrosivas sobre como eu não sei rimar a minha tristeza e sofrimento. E nunca saberei como as letras vão surgindo a cada toque ou a cada piscadela. Nunca quero descobrir como se torna melindrosa ou como se morre por si só no mármore. Nunca há de existir letras que não surjam desprevenidas, ou que não te empurrem a tapas para fora do quarto. Letras que trancafiam toda a felicidade do mundo quando relidas, mas não sabem ser gélidas, são até atraentes. E casam com outras sílabas.

Não são rimas silábicas, são rimas para falecer, são rimas tristes, e quase que irônicas.


Ajustei-me também a cores no ímpeto de querer ser melosa e deslizar no papel, não assim arranhando os punhos e cravando cada ponta do lápis. Soube criar essa rispidez de rosas que atribuem tanto a tão pouco que sei de palavras. Já sou tão fria e tão dolorosa que não preciso nem gritar para que todas as palavras e quase nenhuma venha, apenas as de dor. E se escreveram em tristeza, casou-se com ela. 

Esfria e aquece

Café frio
Dor que esquenta
Dor que some
Dor de vai e vem
Medo da dor que vai
Pra que outra
Venha a se resfriar no café

Chá gelado
Olhos congelantes
Lágrimas paradas
Lágrimas fitadas
Lágrimas congeladas


Mãos quentes
Pés frios
Dor úmida
Lágrimas que vão e vêm
Todos os dedos juntos
Apertam-se
Pra esquentar a lágrima