Não há de ser rima, quando já foi prosa mal contada. Não
escrevo pra rimar ou pra choramingar, escrevo porque a tristeza por vezes me
faz torturar a folha do papel. Risca, forte, fria, rasga. E não necessita de
rima para fazer sofrer nem pra torturar,
muito menos para falecer. E não precisa saber-se morta para estar, nem saber-se
de poeta pra poder combinar palavras. Pois não relato pra combinar a prosa com
o poema, vou relatando palavras que se combinam, e essas vão se ajustando ao
espaço mórbido e pequenino de uma linha.
E eu me ajusto no sofá, em uma almofada, e vou encolhendo
até virar pétala, sensível e quase que não visível. Para não ter outros olhos e
nem outras bocas falantes e corrosivas sobre como eu não sei rimar a minha
tristeza e sofrimento. E nunca saberei como as letras vão surgindo a cada toque
ou a cada piscadela. Nunca quero descobrir como se torna melindrosa ou como se
morre por si só no mármore. Nunca há de existir letras que não surjam desprevenidas,
ou que não te empurrem a tapas para fora do quarto. Letras que trancafiam toda
a felicidade do mundo quando relidas, mas não sabem ser gélidas, são até atraentes.
E casam com outras sílabas.
Não são rimas
silábicas, são rimas para falecer, são rimas tristes, e quase que irônicas.
Ajustei-me também a cores no ímpeto de querer ser melosa e
deslizar no papel, não assim arranhando os punhos e cravando cada ponta do
lápis. Soube criar essa rispidez de rosas que atribuem tanto a tão pouco que
sei de palavras. Já sou tão fria e tão dolorosa que não preciso nem gritar para
que todas as palavras e quase nenhuma venha, apenas as de dor. E se escreveram
em tristeza, casou-se com ela.