Tinha uma estampa florida, e as flores mudavam de acordo com a cor
dos olhos castanhos, quando se misturavam com os verdes. Era retalhada de
melancolias e alguns medos passageiros, chuvas torrenciais inundaram seu
coração por tanto tempo que o sol custou a enxugar os panos velhos e desbotados.
Os panos, os olhos, a alma, todos maltrapilhos e cheios de borrascas de
estações passadas. Mas a sua estampa era colorida, rosas, bromélias, lírios,
girassóis, e algumas outras flores mortas, mas as de botões pequenos
escondiam-se por detrás do sofrimento de uma lamúria. Tantas noites em claro
bordando e costurando corações, gastando tinta para escrever a lápis todas as
dores e amores perfeitos que perderam as pétalas.
E escrevia sobre flores, relatava aquele vermelho sangue das
rosas, mas nunca escrevera sobre os alicerces de seu divino ato de cheirar os
dias chuvosos. Tão embriagantes estas palavras jorradas com toda força para sua
pele branca, já cicatrizada de tantas outras jornadas. Pois se fez de guerreira
para defender o pranto e segurar as lágrimas, mas a chuva sempre cai. Os
dantescos trovões sempre trovejam e gritam, expõem a culpa e deixam as rosas
murchas. Tudo culpa das rosas, tão lindas e tão espinhentas. Por que, moça, tem
tantos espinhos por debaixo dos cabelos?
Retalhe suas colchas de algodão, bordadas de borboletas negras, e
deixe as flores para lá, elas murcharam, e as borboletas são livres para ir embora. Não as
deixe presa em vidros puros, não deixe preso seu masoquismo em ampolas, elas
quebram e se os outros não sofrerem, quem irá machucar-se? Quem irá ferir? Pois
mesmo as rosas mais esbeltas arrancam pingos de sangue, e a dama da noite que
floresce na escuridão tão temida, vive solitária choramingando para a lua.