Vieste me visitar ontem à noite e não deixou fagulha alguma
de sua presença. Nem cheiro, nem som, nem voz, nem olhos. Apenas aquela cor
esbranquiçada da sua pele e os traços de tantos passos mal feitos, um tom de
arrependimento. Arrependimento desses que a gente leve com calma, como se ele
dissesse “é passado”. E nesse pretérito com que falamos de ontem e do segundo
atrás, que tu usaste há tantos anos, eu aprendi a usar o presente como futuro,
e o meu passado não é mais pretérito, mas sim aquela nuvem que demora
eternidade para ir, para cobrir o sol e para descobri-lo de novo.
Por que não deixaste
lembrança?
Eu penso tanto, quase imploro para que dos meus olhos saiam
lágrimas ou alguma palavra que traga a paz e aquela foto nossa. No sofá xadrez,
ao lado de pinheiros e junto com os pássaros, naquele dia, naquela época que eu
não sabia que tanto iria querer torna-la presente.
Mas a visita foi rápida, e eu mal lembrava como era escrever à noite, relatar o escuro e o silêncio - de fora da gente, claro.
A tempestade de ontem à noite, antes da sua presença – no pretérito agora – que trazia uma paz preta e branca, no horizonte que em milésimos se fazia laranja e após o sépia de quem chorou e amou sofrer, me trouxe uma saudade desse inverno que está por vir, que está presente no meu futuro, futuro de dentro de mim, que eu inventei e recrio todas as estações.
Mas a visita foi rápida, e eu mal lembrava como era escrever à noite, relatar o escuro e o silêncio - de fora da gente, claro.
A tempestade de ontem à noite, antes da sua presença – no pretérito agora – que trazia uma paz preta e branca, no horizonte que em milésimos se fazia laranja e após o sépia de quem chorou e amou sofrer, me trouxe uma saudade desse inverno que está por vir, que está presente no meu futuro, futuro de dentro de mim, que eu inventei e recrio todas as estações.
Acabou aqui a minha
saudade, quando o cheiro da fumaça do cigarro congelou na frente do meu rosto
nessa manhã e eu não tive mais memória para relembrar de alguém que veio ontem
à noite. Acaba aqui a minha inspiração de hoje e o meu presente – no pretérito
de quem morreu agora.
Da próxima vez, deixe uma carta.