sábado, 12 de janeiro de 2013



Tinha uma árvore, com nossos nomes grafados, sem coração, sem vírgula, sem ponto, apenas saudade.
Angústia de não saber amar sem chorar ou não saber viver sem amar, e remava pelas suas lágrimas, as mãos cansadas de entrelaçarem-se sozinhas por falta das tuas. O dia tomou um tom acalorado, meio sórdido com frutas coloridas e um ar opaco. O céu tornara-se verde, da cor dos olhos dele. O melro amanhecer cantando, o dia quente suava em sua boca, e o vermelho dos olhos da noite mal dormida não ardia mais, e não aparentava o cansaço de sentir-se só. Apenas sorria, e via o contorno do sol no horizonte relembrando as linhas do teu rosto, da tua boca pequena e do adocicado do beijo. Ah... o gosto da brisa de solstício tinha um sabor familiar, e sorria, e beijava o vento, as flores e os pássaros. As pombas na borda do rio tinham a tua voz, e os beija-flores guardavam seu perfume.
A saudade sofria.
Saibas tu, que ela não sabia fortalecer-se solitária, singular, pois tinha tornado um par de mãos, um par de alianças, e um par de si mesma. Em ti, refletindo a vida em par.
Dor de estar longe, de ver os dias melancólicos e sujos sem a presença de amor, a dor de não sentir-se amada, e sentir-se nostálgica. Tinha algo mais, e as árvores não eram as mesmas, estavam todas com os nossos nomes, e nossos olhares, e nossas mãos. Juntei mil vezes minhas lágrimas, e uni mil vezes minhas mãos nas minhas, por saudades das tuas. Mas, meu amor, minhas mãos tão pequeninas não sabem sentir, não sabem alicerçarem-se a sós, sem as tuas. E eu não sabia que as minhas ardiam tanto sem as tuas. Não sabia que doía tanto não sentir amor, nem estar apaixonada, só estar com saudade.
Meu amor, minha saudade. 

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Melindrosa


Ela tinha a pele calma, cinza, cinzenta, com um tom de saudade, que todos nós esquecemos a nota e quando toca a melodia nos faz chorar, esse tom de sorriso caído, acostumados pelos cantos nos olhos escuros, cinzentos. Havia um pouco de medo em algum lugar de seu rosto, nos cílios pesados ou nas mãos trêmulas que se encolhiam uma sobre as outras enquanto falava, e declamava sobre a vida, sobre sua pessoa. E ensinava os outros, a saber, sentir saudade e não sentir rancor de ser pequena, de se sentir pequena diante da história de vida, das quedas e do abismo imenso de algum amor que se foi, faleceu e ardeu em alguma lágrima salgada que se esparramou nos lençóis. Esses lençóis em que se afaga todas as noite e busca algum sonho na manhã seguinte. Enquanto toma café e meche a colher, faz barulho nas paredes da xícara e as paredes da barriga querem quebrar-se para libertar as borboletas que ainda restam pelo tempo, lembrou-se de um amor perdido. O adocicado do leite a faz querer fugir, correr, por não ter mais aquela doçura, aquele querer viver junto com as águas do riacho, agora se virou em tempestade e não sabe enxergar nos dias de sol.
Tinha uma ponta de sorriso na bochecha do lado esquerdo, enquanto no direito temia em querer viver de novo. Algumas sardas do rosto ainda visíveis expressavam algum temor por ter as mãos tão pequenas e não saber segurar o mundo, pois ninguém nunca lhe disse que não precisava segurá-lo inteiro. Ninguém disse que o escafandro às vezes quebra, racha e as rachaduras são cicatrizáveis, ninguém também a quis segurar no colo e curá-la.
Mas minha criança que já viveu tanto, minha menina da pele clara e calma, não chore pelo dia cinzento, veja como ficam lindos os galhos no topo das árvores, observe as pombas nos prédios altos. Escute o canto da coruja à noite, e deixa esse perfume com cheiro de nostalgia espalhar-se, não prenda seus desapontamentos, eles ficam com uns traços lindos no seu rosto. Deixe seu sorriso meio torto, meio bobo, estampar seus sonhos na beira do abraço de alguém querido, e exale o amor, o resto de amor e os respingos de outros amores que tiveste.
Minha menina de pele cinza, não precisa segurar o mundo inteiro, há sempre outras mãos.