Sentir-se presa. Dói incessantemente.
E tu nunca sabes o quanto seria doloroso, até enxergar que a culpa veio de
dentro de ti.
A água estava realmente gelada, azul, ondas esbranquiçadas
vinham me levar do gelo, do dom de saber flutuar e me fez trancar a respiração.
Nunca ouve nada tão conscientemente pessoal do que trancar a respiração para eu
mesma, para não afogar. Mas se fez em suicídio o medo de morrer, e de tanto
azul asfixiei.
Não houve grito, nem choro. Apenas silêncio, e então as ondas viraram pedras, e houve um pânico.
Não houve grito, nem choro. Apenas silêncio, e então as ondas viraram pedras, e houve um pânico.
Por que tão vazia? Por que não saber amar ou apenas o amar?
Mar imenso, que de
tão preenchido por si mesmo me causa inveja, pois eu me fiz em céu em dia de
chuva. Deserto, só reflete si mesmo naquele falso azul de uma água amarga.
Nunca houve sal, nem açúcar, apenas branco. Cor do vazio da página. Da minha
infinita página.
Não haveria motivos
para a pobre alma que não sabia nadar, acabar esvaindo em falecimento dentro
dela mesmo. Frenética, evasiva, e adentrou a si.
Citei-te motivos, minha cara, mas todos eles me fariam viver
só para rever o alaranjado do fim das horas. Mas um, tão azul, tão claro,
daqueles que vem da janela do último andar em dia de frio caótico, se fez em
mim – começou no intrínseco e transbordou nos cílios pesados. Nublou,
ardeu, e eu só via nebulosidade de dentro da água, mas havia branco também. E
dor. Dor por nunca me ter sentido tão intimamente viva, por mim, pelo medo,
pela luta, pela liberdade de ter escolha de morte.
E a escolha é a que mata, porque nunca foi claro, até hoje
não foi. É somente o vazio queimando a mágoa, e deixando em cinzas a culpa, o
remorso de não saber apreciar o verão. Porque só há vazio. Um vazio amarelado.
E a minha liberdade é cor de azul-água.