sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

A laranjeira e os olhos que afogam

São os teus contornos familiares e desregulados sob aquela áurea de não saber aonde vai, mas estar indo, que me fazem sentir perdida e tão bem encontrada.

Teus olhos me encontram. E nem eu mesma consigo me localizar dentro de mim. São mares dentro de minha pele que ricocheteiam e violentamente perseguem a correnteza que foge, minha mente foge da correnteza. Inundação nos olhos. É aquele nó na garganta toda vez que os olhos se atropelam rapidamente que costuraram a história mais triste dessa fase da lua. Há mágoas que preenchem a lua nova e a enchem, mínguam quando veem o raio de sol que a realidade – pela primeira vez alegre – traz. Um tanto estranho como a realidade dos dias pode ser bela e tão pesada. Não há leveza sobre guardar amores mal amados ou mal acabados, nem sobre se sentir perdida mesmo quando os outros te encontram. É uma felicidade que pesa o mundo.

Precisei carregar nosso mundo para longe, jogar meu mundo fora. Não há restos, há novos mundos em cada canto de mim que formam galáxias desconhecidas e assustadoras. Tenho medo de tudo que se trancafia em mim. A reflexão do rosto na água cristalina e calma não transparece o pesadelo das pedras naquelas encostas, pedregulhos. Mãos que não esperam receber mais nada. E recebem. Há sentimentos que caem pelas frestas dos dedos, há pessoas que doam sentimentos densos, cabem no peito e ocupam o corpo todo. Descontrole.

Há um barco passeando no horizonte carregado de sonhos mal acabados e desistências. Existe eu. Tombando com pequenas ondas violentas que acertam o quadril. Ainda vejo desenhos esverdeados na circunferência. Aquele que não sabe onde depositar amor nunca entendeu palavras carregadas de sentimentalismo e molhadas com lágrimas. Não tem como compreender. São palavras, que saem da boca medrosa, que mal se mostram na luminosidade, são úmidas, verbos tortos e doloridos. Verborragia interna sufoca. Verborragia que não se grita e não sonora.

Desisti de dialogar com paredes – bem como com rostos – prefiro eu mesma e minha inconstância ansiedade sobre o inacabado e nebuloso presente. Não entendo passado, nem o hoje. O futuro é uma estação outonal, com folhas rasgadas, passos estremecidos e morte dos galhos. Futuro é uma laranjeira sem frutos e entorpecida de geada pessimista. Vazio entre os galhos desfalecidos.
O alaranjado da pele em raios solares queima e tenta escapar do corpo. Nenhuma substância sensível quer habitar em mim. A garganta é como repuxo que te derruba e te afoga. Todos correm e tentam ir para a sobriedade, para a superfície, mas há muita areia azulada e desentendimento salgado adentrando os pulmões.

Respiração acelera, a laranjeira vai derrubando seus frutos e eu derrubo muros. Reconstruo calabouços.
Não há frutos coloridos em mim. Sobre o ombro, na camada externa, há folhas secas raspando nos pelos arrepiados. Na camada interna há mágoas apodrecidas e azedas sobre a terra molhada do meu íntimo. Chove de fora pra dentro.

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