domingo, 28 de abril de 2013

Algo

Longa, curvilínea, alta, longe, distante. Meus olhos já não conseguem, já não sabem acompanhar, não sabem ver-se sem os teus, e não sabem acordar sem lágrimas. Tão longa, tão distante, tão brilhante, tão opaca. Já não saber lutar, não sabes relatar, não sabes escrever. Desaprendeu a amar como se desaprende a andar de bicicleta, e mostra seu brilho no olhar quando chora, pois nada que muito pranteia, muito entende. E nunca compreendeu porque choravas, porque gritavas, nunca conseguiu saber por que não sabias escrever  o amor.
Espasmos de querer ver-se novamente cercavam sua madrugada e a agulha costurava suas mãos. Bordou a cama e deitou-se no chão, para aprender se quer a poetizar sobre ti mesma, e fracassou. Não soube, não lutou, não conseguiu, e não pôde. Leves e tiritantes arrepios de querer perdoar e ver-se, e amar-se, e não venceu. Tenta mostrar-se e não há forças. Há algo trancafiado, isso há! Há um tom a mais na cor da pele, e um feixe de luz que nãos se mostra quando se esconde, e volta a brilha, e faz-se pequena, curvilínea, curta e de curvas que tonteiam, mostra o brilho, deixa a vontade com saudade e se vai.
Espasmos da madrugada, de quem não compreendendo, não sabe mostrar-se ao amor, e muito menos ao menos. Não sabe sorrir, e quando mostra os dentes se assusta quase se espanta ao abrir a alma de vidro entre tantas de pedra. Quase não mira, e sua retina esconde-se de tantas luzes que desaprende a brilhar. Espera para mostrar-se, constantes tiritares de querer ver a longevidade de um sorriso, não seu, não dele, de algo, que há muito está trancafiado.

Seca, lacrimejante.
Lacrimejante rosa, jogada, atirada pela toalha rendada, bordada com lágrimas e sal, rosa torturante me explica um pouco da sua doçura. Diga-me como ser adocicada com um toque de dureza, para que as pisoteadas e o vento não me leve, quando já estiver desnuda e seca, jogada, atirada pela toalha esbranquiçada. Diga-me rosa, folha, folheada, como folheia tanto as páginas e nada se entende do poema, nada se interpreta de uma lágrima que escorre e recua. E volta, e luta e se entrega. Quão covarde, lágrima! Quão covarde foi, rosa, em me embelezar e depois jogar e atirar, na toalha bordada.
Torture a flor, com suas raízes rasgadas, mas não me afogue em minhas lágrimas, são salgadas, não sabem ser adocicadas e nunca aprenderam a recuar. Não seja esse mel que escorre das pétalas para depois disfarçar-se de espinho, não seja covarde, não cante às andorinhas para depois se lamentar aos melros, e choramingar. Covarde foi, e aprendeu a não perdoar, ao rasgar, rebentar, pétala por pétala, depois secar, entristecer e amarelar cada ponta, cada aroma e jogar-me assim, na toalha rendada, tão bela e tão dolorida! Quão covarde, lágrima! Recue, seque! Não lute contra os espinhos, recue e aprenda a ser chicoteada pela mesma rosa que te encanta.
Lacrimejante rosa, não sejas tão dura e deixe-se amolecer, não negue, e não ame não se entregue e não tolere, não declame e não choramingue, não sejas covarde, aprenda a ter espinhos e a ferir, para depois deixar-se jogada, atirada, na toalha bordada e então deixar-se rendar, estar rendada pelas marcas, pelo choro, e pelas lágrimas, que nunca souberam ser doces.