Quando a
flor cai e despedaça-se em plena consciência de não saber mais ser, nem ouvir,
nem ver a voz do outro. Quando o espinho crava fundo e tem-se a certeza de não
ter mais o toque, os olhos, e a respiração dele em mim.
Nessa época
de ventos gelados e secos galhos de desesperança, o inverno não mata as flores,
mas sim os seus perfumes e assim se desfaz um sofrimento e desencadeia um
cheiro frio, brando, que entra pelos casacos de lãs e traz uma lembrança. E
essa mesma entra por entre nossos punhos fechados e navega entre o sangue até o
coração. Coração esse que tanto dói, um diagnóstico quase físico, quase
corporal. Quando o corpo estremece em si só pela dúvida ou pela certeza de não vê-lo,
de não tê-lo para si, como a voz, e o ser dele, o nosso ser transbordando com outro.
No mesmo instante em que o verão vívido acaba com o amor congelado pelo tempo, acaba-se as palavras, e a voz se despede dos olhos, que tocam as mãos e dão-se adeus.
No mesmo instante em que o verão vívido acaba com o amor congelado pelo tempo, acaba-se as palavras, e a voz se despede dos olhos, que tocam as mãos e dão-se adeus.
Cumprimentam-se
então, o inverno e a nossa nostalgia, os novos olhares, e novas vozes, que
mesmo aquecidas, mesmo perto, mesmo no pé do ouvido, a falta dele ainda traz
arrepios congelantes. Tiritante então se faz uma saudade que começa no pé até o
último fio de cabelo, pois o cabelo do outro já não está entre os dedos seus,
nem o meu em seu rosto. Quando a cabeça estava em seu peito, tudo que era neve
se derretia.
E então tudo se resfria e se trancafia dentro de mim, onde havia uma aliança, agora já gelo e calos. Fios de cabelo que não se prendem no coque caem no meu rosto e trazem algo mais do que a fragilidade deles, trazem a minha. Que eu percebo logo se hospedando debaixo do peito e perto dos olhos, bem onde as lágrimas escorrem. E essa fragilidade fica, e se faz relicário com a saudade de quando meu corpo era forte para suportar qualquer temperatura. Agora qualquer vento pós-chuva derruba-me de joelhos. E eu caio junto a flor que se despedaça em plena consciência de não ter mais a sua voz. Saudade é longo dia de inverno, quase que uma morte - de algo de dentro do corpo.