Era tão estranho de se
estranhar como se entranha nas findas entranhas de uma alma não reconhecida.
Não o reconhecia em meu próprio espelho, como se distorcido
fosse, era quase que um amor pra toda vida resumido em algumas pedras atiradas
no meio do caminho, e as malas feitas na porta. Mas guardava nas malas um pouco
de imensa insegurança – não tenhas medo de mostrar o seu medo, tenhas medo de
não ouvi-lo nas horas aflitas – e eu quase que não tinha segurança, nem uma
ponta, nem uma vírgula. Havia milhões de exclamações após a palavra: insegura!
E nos seus olhos como nos meus havia uma escura mancha de saudade não finita,
sobre algo que deixamos de amar e passamos a amar a rotineira lembrança, não
mais o fato.
Mas não era como eu. Nunca serias. Não tinha o lilás do
sonho de 9 segundos antes de dormir, não havia em ti um medo sóbrio– como em
mim – em ti há um medo incandescente e outra realidade sobre as flores, não são
aquelas sobre a sepultura, mas aquelas nos vasos na varanda, aonde os pássaros
vêm saciar-se e se vão, nem sequer mandam um beijo.
Nem sequer reparamos na parede sob as flores, branca, e de
tanto recostar-se de frente para ela como que pedindo espaço, não era mais
branca, e sim vazia, tomava o teu vazio. Não notavas as linhas pretas e brancas
nem as tulipas pequeninas com as pétalas dizendo para ti que a noite não é
fria, nem calada. É uma sinfonia quase que surda, uma orquestra que ensina
sobre o outro o dia, do qual esqueces no instante que piscas antes de chorar. E
esquecesse-se de reconhecer seu rosto do outro espelho, dentro do guarda-roupa
com cheiro de agora, com cheiro da próxima hora, que irá esquecer. Não se
esqueça, não deixa para a próxima hora
para deixar escrito num canto, no rodapé no livro de receitas
adocicadas, um pedido de desculpas, um reconhecimento sobre o quão grandes são
suas mãos, e quanto de cacos de vidro cabem nelas.
Remonte o espelho,
desta vez limpo e reto, e reconheças a ti como reconhece teu medo!