sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Estranheza


Era tão estranho de se estranhar como se entranha nas findas entranhas de uma alma não reconhecida.

Não o reconhecia em meu próprio espelho, como se distorcido fosse, era quase que um amor pra toda vida resumido em algumas pedras atiradas no meio do caminho, e as malas feitas na porta. Mas guardava nas malas um pouco de imensa insegurança – não tenhas medo de mostrar o seu medo, tenhas medo de não ouvi-lo nas horas aflitas – e eu quase que não tinha segurança, nem uma ponta, nem uma vírgula. Havia milhões de exclamações após a palavra: insegura! E nos seus olhos como nos meus havia uma escura mancha de saudade não finita, sobre algo que deixamos de amar e passamos a amar a rotineira lembrança, não mais o fato.

Mas não era como eu. Nunca serias. Não tinha o lilás do sonho de 9 segundos antes de dormir, não havia em ti um medo sóbrio– como em mim – em ti há um medo incandescente e outra realidade sobre as flores, não são aquelas sobre a sepultura, mas aquelas nos vasos na varanda, aonde os pássaros vêm saciar-se e se vão, nem sequer mandam um beijo.

Nem sequer reparamos na parede sob as flores, branca, e de tanto recostar-se de frente para ela como que pedindo espaço, não era mais branca, e sim vazia, tomava o teu vazio. Não notavas as linhas pretas e brancas nem as tulipas pequeninas com as pétalas dizendo para ti que a noite não é fria, nem calada. É uma sinfonia quase que surda, uma orquestra que ensina sobre o outro o dia, do qual esqueces no instante que piscas antes de chorar. E esquecesse-se de reconhecer seu rosto do outro espelho, dentro do guarda-roupa com cheiro de agora, com cheiro da próxima hora, que irá esquecer. Não se esqueça, não deixa para a próxima hora  para deixar escrito num canto, no rodapé no livro de receitas adocicadas, um pedido de desculpas, um reconhecimento sobre o quão grandes são suas mãos, e quanto de cacos de vidro cabem nelas.

Remonte o espelho, desta vez limpo e reto, e reconheças a ti como reconhece teu medo!