Era feita de céu e mar, enlaçada pelo pôr do sol, e exalava em
cada voejar gotas de promessas, e desilusão, imbuída de cores mórbidas,
expressava arco-íris. Eu já expresso luar, e depressão existencialista, não
reflito e não escrevo. Nem relatei outros caminhos da borboleta que pousou em
minha alma. Em todas essas epístolas de melancólicas fatalidades sobre as
flores, eu encontrei tal borboleta. E como eu, escrevia sangue, cheia de
colorido só enxerga preto e branco. O branco se ressalta, num salto, pois a neve
tem a cor de minha pele. E meus olhos pesados caíram e feriram a borboleta.
Pobre borboleta largada ao mármore, que tanto voejou, juntou-se as folhas secas
que se findam junto ao outono.
Veja a borboleta admirando a vinda do inverno, tão mórbido e
cinzento inverno. Banha os dias de azul celeste, e repinta as paredes. Essas
paredes onde a borboleta passou a noite. E eu afaguei suas pequeninas asas
machucadas, ensanguentadas. Aonde vai borboleta? Desista da ponta quebrada do
lápis, deixe os rascunhos se escreverem sozinho, pois eu já não olho para o
céu, nem rezo aos mortos. Tão sortudos mortos. Vá borboleta e encontre-os,
encontre qualquer alma penada desde que ame um buquê de flores e seja perfumado.
Perfuma-te pequenina dourada, não deixe o cheiro de chuva impregná-la, como
impregnou a mim.
Já imbuída de inverno, estou aos prantos, e veja meus olhos secos,
brilhantes castanhos escuros... A noite está esbelta para um baile de
masoquismo e libertinagem. As estrelas se escondem, e a borboleta está no canto
da parede esbranquiçada. Dialogo com os porta-retratos, e conto de minha
borboleta, que tanta sorte tem por viver somente enquanto as cores de suas asas
são vívidas. Pois as minhas desbotaram, meus olhos congelaram castanho opaco. A
borboleta era azul, preta e dourada.