quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Sobre alumínio e lágrimas

Água fria sobre os pulsos, veias azuis que convergem para a
palma da mão confundem-se com as vertentes de um oceano que não se sabe mar ou rio. Doce ou salgado. Nem ela mesma sabia se era doce ou salgada. A certeza era a amargura. 
Vidros sujos davam novos contextos para o sol quando os raios batiam na janela. Pouco se adentrava de luz, mas era laranja e opaca. Há muito tempo que ela havia se tornado opaca como essas tais luzes. E também não sabia devia baixar o vidro ou deixar os espectros para o lado de fora, já que havia um tanto quanto dela do lado de fora, e tantos outros sonhos e amor do
outro lado, como se abrisse a janela e deixasse tudo ao vento de 100 km/h. A
dor foi quase como o gélido vendaval cortando a face, rápido, frio, dolorido
por toda a pele, porque sentiu a dor em cada fibra do cobro e fio de cabelo. O
medo se escondia entre as linhas de dobras dos pulsos e dos dedos, as mãos cansadas e com restos de lágrimas da noite anterior. Os dedos já eram salgados por natureza de tanto choro que contiveram e secaram. Luzes douradas e prateadas vindas do mesmo solo, do mesmo ponto, enquanto girava tudo se misturava e era um grande holofote, depois da lentidão ora era prata, ora era ouro. Ela não sabia se era ouro ou prata, a certeza era a ferrugem endurecida em cada canto do corpo – nos dedos
principalmente – o círculo ferrífero envolta dos dedos se desmanchara e deixara
seu resto enferrujado na pele. A pele era uma camada de alumínio que com o
correr das lágrimas se dilatava e nada mais o extraía dali. Era a sensação que
ela tinha sobre uma risada antiga. A superfície de alumínio continha sal, lágrimas, e um resto de coração. Esse conjunto todo só conseguia pensar que começou a viver depois de deixar partir-se ao meio e enferrujar, e ela só pensava que poderia estar vivendo tudo aquilo com a mesma risada antiga. Mas não.
O outro conjunto era de tecido escuro, costurado à mão, leve demais para
permanecer como ela, mole demais para se fortificar como ela fez – e como ela se machucou.
Quanto mais dura a superfície mais difícil se retiram marcas deixadas ali, e as
marcas estavam por toda pele. Como era dolorido ter fortificado tanto um amor
que nem era seu, porque ele sempre foi cobertor de crochê, se costuram os
retalhos aqui e ali, enquanto ela era o prateado coberto de riscos e buracos.
Não havia linha para costuras. Era o tipo ferrífero mais frágil que já existira, mas era sólido, como tudo dentro dela – inclusive a dúvida deixada para trás. O som da risada passada era um tanto quanto dolorosa, mas
havia deixado belos registros à marteladas na pele ferrífera.  Então a menina feita de sal e alumínio deixou a janela trancafiada por enquanto, as lágrimas já haviam secado, os dedos guardavam bastantes sorrisos ultimamente. Mas algumas saliências na prata são visíveis e brilhantes, sulcos cheios de dor e indiferença

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